Desenvolvida na UFPE, ferramenta ‘lab-on-a-drone’ verifica, em poucos minutos, tipo e concentração de poluentes em espaços como rios, mares e lagos.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveu um drone que coleta amostras de água e analisa a poluição em espaços como rios, mares, lagos, canais, açudes e reservatórios. Segundo o professor que orientou o projeto, Vagner Bezerra, o equipamento verifica, em poucos minutos, o tipo e a concentração de poluentes (veja vídeo acima).
Denominada “Lab-on-a-drone” (que, numa tradução livre do inglês, significa “laboratório-sobre-drone”), a ferramenta envia os dados, em tempo real, para qualquer celular conectado a ela. Entre as substâncias que podem ser detectadas pelo aparelho, há desde pesticidas e herbicidas a metais pesados, como chumbo, mercúrio e níquel.
“Ele consegue saber, por exemplo, o impacto de uma atividade do agronegócio, se alguém está aplicando pesticida numa quantidade muito alta. Se tiver uma atividade de mineração descartando uma substância irregularmente num corpo d’água, ou se tiver um descarte irregular de uma indústria e tem que se fazer um tratamento das águas antes de recolocá-las no meio ambiente, ele consegue fazer [a análise]”, explicou Vagner Bezerra.
Desenvolvido pela equipe do Laboratório de Instrumentação e Automação em Analítica Aplicada (LIA3) da UFPE, o equipamento utiliza uma metodologia semelhante à do aparelho que faz perícia de disparos de armas de fogo por detecção eletroquímica, também criado no LIA3.
O projeto contou com a participação de três estudantes de graduação, mestrado e doutorado. De acordo com o orientador do projeto, a ideia do estudo que possibilitou a criação da ferramenta surgiu em meio à crise causada pelo derramamento de óleo no litoral do Nordeste, em 2019.
Como funciona
Segundo o professor Vagner Bezerra, para criar a ferramenta, foi feita uma “adaptação robótica” num drone, que passou a contar com uma sonda e uma bomba de captação de água.
“A sonda desce entre um metro e um metro e meio [dentro da água]. Na ponta dela, a gente tem um tubo vazado de cobre para dar um peso e evitar que ele faça movimentos pendulares por causa do vento. A bomba faz a sucção da água, e uma válvula direciona essa água para dois compartimentos onde há sensores”, detalhou o cientista.
Os sensores, conforme explicou o professor, são acoplados a um equipamento chamado de analisador eletroquímico, que faz a medição dos poluentes presentes na água.
“A gente gera um relatório em tempo real com os dados, que vão sendo enviados ao celular do analista que está operando o drone. E a gente criou um algoritmo para que dê a substância poluente e sua concentração”, afirmou Bezerra.
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Drone usado para analisar qualidade de água foi desenvolvido por pesquisadores da UFPE — Foto: Divulgação/LIA3
Durante os estudos, os pesquisadores fizeram testes com o drone na barragem de Duas Unas, em Jaboatão dos Guararapes, reservatório mantido pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), que financiou a pesquisa.
O analista da Apac Gilberto Queiroz disse ao g1 que considera o projeto “bastante pertinente”, mas o projeto precisaria passar por mais testes e adaptações para poder ser adotado no monitoramento dos corpos d’água localizados no estado.
“A gente teria que comprar um drone muito robusto, muito mais caro, e fazer várias viagens da margem até a zona de coleta. É algo muito interessante. Inclusive, no relatório final, ele fez todas as especificações para um drone maior caso a gente venha adotar isso em algum ponto específico que a gente não consiga acessar de jeito nenhum, nem com barco, nem pelo paredão do reservatório, por exemplo”, afirmou.
FONTE: G1