Glaucio Ramos identificou grande número de familiares e alunos que afirmavam que não iriam tomar a vacina contra a Covid-19 por causa das informações falsas que recebiam pela internet.
Um projeto desenvolvido por um professor de português para combater notícias falsas a respeito da vacinação contra a
Covid-19 em
Paulista, no Grande
Recife, ganhou reconhecimento internacional e serviu de incentivo para os familiares de alunos se imunizarem. O “Fuja do fake e foque no fato” ensinou os alunos identificarem as “fake news” por meio da checagem de notícias
O trabalho foi iniciado em fevereiro deste ano, com alunos oitavo ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cônego Costa Carvalho, e conseguiu alcançar pelo menos 144 pessoas.
De acordo com o professor Glaucio Ramos, de 42 anos, foi aplicado um questionário e identificado que muitos familiares e alunos não iriam tomar a vacina contra a Covid-19 por causa das informações falsas que recebiam pela internet.
“Foram ouvidas 87 pessoas e mais da metade dizia que não iria se vacinar e que não confiava na vacina por causa das notícias que recebiam. A partir disso, desenvolvi o projeto apresentando para os alunos estratégias de checagem de notícias”, explicou.
No trabalho com os alunos, o professor ensinou como pesquisar a notícia em várias fontes, checar a autoria, observar se a linguagem tem algum erro ou se é usada de forma apelativa. Ele também mostrou alguns links de projetos especializados no assunto, como o Fato ou Fake, do g1.
“Ensinei a fazer pesquisa reversa de imagens, como checar em sites e projetos especializados, como o do g1, tudo para que eles aprendessem como conseguir identificar se uma notícia é falsa ou não”, lembrou.
Os professores de outras disciplinas ajudaram. “O de história trabalhou a Revolta da Vacina, de 1904, e o negacionismo histórico. O de matemática fez a análise dos gráficos da pesquisa com as famílias e a de ciências trabalhou a validade científica da vacina”, disse Glaucio Ramos.
Também fez parte do trabalho a leitura do livro “Esquadrão Curioso – Caçadores de Fake News”, do jornalista Marcelo Duarte. Para isso, o professor Glaucio Ramos contou com a ajuda de pessoas de todo o Brasil em uma campanha para comprar 55 exemplares.
No trabalho com os alunos, o professor ensinou como pesquisar a notícia em várias fonte — Foto: Arquivo pessoal
Ao final, os alunos desenvolveram, com a ajuda dos familiares, vídeos e memes contra as notícias falsas e a favor da vacinação contra a Covid-19. O conteúdo foi disponibilizado em QR Codes na secretaria de educação da cidade e compartilhado em aplicativos de mensagem como o WhatsApp.
“Eles leram o livro, estudaram o tema em grupos de pesquisa, de debates, ouviram podcasts sobre o assunto e trabalharam o tema junto com a família, já que a ideia também era alcançar eles, elaborando vídeos e memes contra fake news e a favor da vacina. As gravações eram sempre dos alunos com algum parente, para disseminar a informação na escola e na comunidade”, detalhou.
Nas aulas online, professor ensinou como pesquisar a notícia em várias fontes — Foto: Arquivo pessoal
A aluna Jenifer Raiane, de 14 anos, contou que perdeu o medo de tomar a vacina, após perceber que algumas notícias eram falsas e que convenceu a irmã a fazer o mesmo.
“Aprendi muitas estratégias para não cair em ‘fake news’. Eu estava com medo de tomar a vacina e percebi que as notícias que tinha visto eram falsas. A minha irmã também, que tem 17 anos, mas consegui convencer ela a tomar”, contou.
A estudante Laís França, de 13 anos, ensinou para todo mundo em casa como checar se uma notícia é verdadeira ou falsa.
“Aprender sobre como identificar uma notícia falsa é muito importante. Antes de compartilhar, é preciso saber se é verdade ou mentira para não acabar engajando uma notícia que é falsa. Por isso, expliquei tudo para a minha família”, disse.
Reconhecimento
Por causa do sucesso do projeto, a prefeitura de Paulista decidiu que, a partir de 2022, o trabalho iniciado na Escola Municipal Cônego Costa Carvalho será adotado também nas outras escolas municipais. “Vai ser redesenhado e vai virar um conteúdo complementar, uma disciplina transversal de educação midiática”, disse.
O projeto também recebeu um prêmio da Rede Nacional de Ciência para a Educação (Rede CpE) e foi apresentado para outros dez países durante o evento World Education Week, que em tradução livre significa semana mundial da educação, um festival internacional de educação realizado online.
FONTE: G1