Ônibus elétrico volta às ruas do Recife

Um resgate nostálgico que sinaliza, ao mesmo tempo, uma necessidade de repensar a mobilidade. Dezoito anos depois de abandonar as ruas do Recife, um ônibus elétrico voltou a circular na capital pernambucana. O veículo, em fase de testes desde a última quarta-feira, circula na linha 2040/CDU-Caxangá-Boa Viagem e é operado pela empresa Mobi-PE. O coletivo passará 45 dias sendo testado e avaliado pela companhia, para que seja analisada a viabilidade de implementação do modelo na frota, a médio e longo prazo.
 
Zero poluente, o veículo é 100% elétrico e não consome combustível fóssil, diferente dos veículos que circulam atualmente na Região Metropolitana, abastecidos a diesel. Maior que um ônibus convencional e menor que um BRT, o coletivo tem capacidade para 80 passageiros. Contudo, como é um carro de testes, tem apenas 23 lugares para quem deseja ir sentado. Com autonomia para rodar 300 km por dia, ele é abastecido a cada três ou quatro horas, na garagem da companhia. Por enquanto, o teste está sendo feito com uma média de seis a oito viagens por dia.
 
A linha CDU-Caxangá-Boa Viagem foi escolhida por abarcar uma multiplicidade de público e de contextos de via. “É uma linha circular, que passa por vários bairros. Na Cidade Universitária, onde tem um público estudantil, pega também o pessoal do Hospital das Clínicas, da Avenida Recife, de Setúbal, da Imbiribeira. Também passa por engarrafamentos, área de lombada, tráfego misto, faixa azul. Então, conseguimos avaliar efetivamente o desempenho do carro”, explicou o diretor de operações da Mobi-PE, Djalma Dutra.
 
Serão avaliados se o veículo perde força, se é confortável para o passageiro, se  consegue rodar de fato os 300 km, quanto consome de energia durante os engarrafamentos, entre outros quesitos. “Queremos ver também se a população irá perceber, entre outras questões, que o nível de vibrações dele é praticamente nulo”, disse o diretor. Os testes estão sendo realizados em parceria com a empresa chinesa Build Your Dreams (BYD), referência em energia limpa e maior fabricante global de veículos elétricos (de 2015 a 2018).
 
“Estudamos uma tecnologia que fuja um pouco do combustível fóssil. Sabemos que há um custo benefício, de uma forma geral, do financeiro ao sustentável nisso. Ainda que um ônibus tire de 30 a 40 carros das ruas, mas ele ainda polui. Queremos alternativas de energia limpa. Estamos em busca de uma tecnologia que possa, a médio e longo prazo, substituir ou compor a nossa frota”, detalhou Djalma Dutra. O veículo será avaliado semanalmente. A fábrica também faz um monitoramento, via digital, para monitorar o comportamento do carro todos os dias.
 
Capital pernambucana foi uma das pioneiras no Brasil 
 
Ônibus elétrico não é uma novidade no Recife. A cidade é foi uma das primeiras do país a receber veículos desse tipo, ainda na década de 1950, se tornando vanguardista nesse tipo de mobilidade. A nova experiência, contudo, é bem diferente do antigo trolebús, pois a eletricidade é conduzida por meio de baterias que ficam acopladas no teto e perto das todas dos veículos. No passado, a energia era transmitida por cabos aéreos suspenso sobre todo o trajeto.
 
Esse tipo de coletivo começou a circular na cidade depois que o bonde elétrico saiu de cena. A responsável pela implementação do serviço era a Companhia de Transportes Urbanos (CTU), um órgão já extinto da prefeitura. Inicialmente, de acordo com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), eram 13 linhas servidas por 65 ônibus. Os veículos eram importados da Marmon-Herrington Automotive Company, de Indianápolis, nos Estados Unidos. Em 10 anos, a frota chegou a ter 140 veículos em 18 linhas.
 
“Recife era uma das poucas cidades no Brasil com esse tipo de veículo, ao lado de São Paulo, Ribeirão Preto e Araraquara. Ao longo do tempo, o sistema foi levado à degradação, pois usava uma tecnologia de rede aérea. Exigia uma subestação também”, lembra o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Maurício Pina. O veículos trafegavam por vias como a PE-15, as Avenidas Rosa e Silva e Caxangá. O sistema deixou de operar nas ruas do Recife em 24 de setembro de 2001.
 
Hoje em dia, a tecnologia mudou. Pelo menos seis municípios do Brasil e 10 países no mundo usam ônibus elétrico em suas frotas. Dentre eles, Campinas e São Paulo. A mesma empresa que está fazendo testes no Recife tem 102 veículos no Chile e 56 na Colômbia. Na China, são 11 mil. “Hoje em dia a tecnologia avançou. Os veículos têm bateria suficiente para dar autonomia. É uma tecnologia do futuro. O combustível fóssil produzido a partir do petróleo está com os dias contados. Do ponto de vista ambiental, o ônibus elétrico não polui como os outros. Além disso, tem a questão de reduzir os custos, pois o elétrico tem mais facilidade de manutenção do que o a diesel”, explica Maurício Pina. Ele diz, entretanto, que mudar a frota toda é uma realidade que necessita de uma mudança radativa, o que pode levar alguns anos ainda. 
 
QUESTIONÁRIO

Ao longo dos testes, um questionário será aplicado à população, que poderá dizer o que achou do veículo. Após os 45 dias, os resultados serão analisados pela Mobi, que definirá se começará um diálogo com a fábrica e o governo de Pernambuco para implementar o ônibus movido à eletricidade na frota.
 
Além do teste na linha CDU-Caxangá-Boa Viagem, o veículo poderá ser visto em dois eventos de grande porte realizados no estado. De 2 a 5 de outubro, o ônibus elétrico será utilizado durante o REC’n’Play, festival que acontecerá no Bairro do Recife, com mais de 300 atividades. Em novembro, estará à disposição da Conferência Brasileira de Mudanças Climáticas (CBMC), entre os dias 6 e 8, também no Bairro do Recife.
 
FONTE: DP

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