Dois homens e uma mulher foram presos por causa das agressões, mas liberados após pagar fiança de R$ 1,1 mil, cada. Caso ocorreu no sábado (30), em Paulista, no Grande Recife.
Eles foram presos pela polícia no sábado (30), dia em que ocorreu o crime, mas liberados em seguida após pagar fiança de R$ 1,1 mil, cada.
Parte das agressões foi filmada. Nas imagens, é possível ver o estudante de engenharia Lucas de Lima Paiva, de 20 anos, sendo espancado em meio a um grupo de pessoas.
O jovem foi auxiliado por funcionários da MF Marina, que o trancaram na cozinha do restaurante que fica no local para impedir que as agressões continuassem.
“Minha filha, de 19 anos, depende de mim, meus netos também. Não sei o que vai ser de mim, nem deles. Eu me sinto revoltada, triste, porque foi racismo. Estou em choque, à base de calmantes. Não consigo comer, não consigo dormir. Estou revoltada porque foi racismo e ele só não morreu por causa dos funcionários”, disse Kelly.
Na tarde desta quinta-feira, Kelly, que trabalhava como caixa da loja de conveniência que fica na marina, esteve no Instituto de Medicina Legal (IML), no Centro do Recife, para se submeter a um exame de corpo de delito.
Ela interveio na briga ao ver Lucas correndo de uma lancha para a Marina. A mulher tem arranhões no corpo e diz que a responsável pelas agressões foi Thayanne Santos Lins da Rocha. A empresa nega que a motivação da demissão tenha sido a confusão.
“Eu fui tentar tirar ele das garras de Thayanne, de Thierry e de Hygor. Quando Lucas subiu, já subiu pedindo socorro. Ele foi muito espancado, humilhado, xingado de ‘negro safado’, ‘pobre nojento’, ‘seu bosta’, ‘seu imundo’, ‘negro sujo’. Dizendo ‘você não tem carro, vou lhe matar’. O tempo todo xingando Lucas. Thayanne, o tempo todo, ameaçava ele de morte. Dizia ‘eu vou te matar, eu vou te matar'”, afirmou Kelly.
Kelly afirmou ter notado que, durante a briga, Thayanne, Thierry e Hygor estavam bastante bêbados. Thierry também é réu num processo em Glória do Goitá, na Zona da Mata, por formação de quadrilha, crimes contra a ordem econômica e receptação qualificada.
Thayanne era funcionária do gabinete do deputado estadual Aglailson Victor (PSB), mas foi demitida. Por meio de nota, o parlamentar disse que considera inadmissível que casos de racismo ainda aconteçam nos dias de hoje. E que, por este motivo, a assessora em questão foi exonerada e afastada das atividades do gabinete. Na nota, o deputado afirmou que se solidariza com a vítima.
“Thayanne dizia ‘eu sou branca, sou filha de juiz e isso não vai dar em nada, eu vou te matar’ e o tempo todo xingando ele, batendo nele. Os três estavam espancando ele. Eu, por parte da Thayanne, levei arranhões no braço, chutes, empurrões e xingamentos, como outros funcionários, que são testemunha”, afirmou a ex-funcionária da marina.
Kelly sofreu arranhões durante agressão na MF Marina, em Paulista — Foto: Reprodução/TV Globo
No domingo (31), dia seguinte à confusão, segundo Kelly, houve a demissão determinada pelos proprietários da MF Marina.
“A chefe fez uma reunião, citou que teve o privilégio de nascer branca e rica. Me levou para uma sala e, ao entrar, ela me deu R$ 40 para fazer o exame demissional, falou que não dava para ficar mais ali, porque, estava trazendo problemas para a marina. Ela também foi agredida por Thayanne com chutes e empurrões. Por eu ter defendido Lucas, ela falou que, por ser funcionária, não era para ter me metido e eu não ia mais trabalhar ali e eu estava dispensada”, declarou Kelly.
Advogados
O caso foi tratado pelo delegado de plantão, da delegacia de paulista, como injúria racial, que, diferente do crime de racismo, é afiançável. Quando ocorre racismo, a pessoa não pode fazer o pagamento para deixar a prisão. O advogado que representa o estudante vítima afirmou que tenta reverter o processo para o crime de racismo. Kelly está no inquérito como testemunha.
“Ela foi demitida, porque tentou ajudar Lucas. Foi agredida pela Thayanne Rocha e ajudou quando viu Lucas lá. Foi vítima de chutes, arranhões, agredida verbalmente, chamada de pobre. O depoimento dos funcionários da marina vai ser acrescido ao inquérito de Lucas. Entramos com uma requisição solicitando para representar como racismo, porque pagaram fiança de R$ 1,1 mil cada um e foram soltos”, declarou o advogado Luiz Carlos Tomé.
“Recebi com estranheza as acusações em face deles a respeito do crime de injúria racial, posto que a versão até então apresentada não se coaduna com a realidade fática. Tenho absoluta convicção da inocência de todos, inclusive será apresentado nos próximos dias um escorço probatório a fim de ratificar a plena inocência de todos”, afirmou.
MF Marina
Por meio de nota, a MF Marina disse que o desligamento de Kelly “nada tem a ver com a confusão ocasionada por um grupo de jovens no fim da tarde do último sábado, dia 30” e que a demissão “já estava nos planos da marina e foi por questões de ordem administrativa, que não serão expostas ao público”.
A marina disse, também, “que não é verdade que a demissão aconteceu depois que Kelly tentou apartar uma briga entre jovens que ocorria nas dependências internas da marina”. Por fim, a empresa voltou a repudiar as agressões e “toda e qualquer forma de discriminação”.
FONTE: G1