Desemprego alto preocupa Planalto, que exige medidas urgentes de Guedes

A alta do desemprego está sendo um tormento para o governo. São só quatro meses completos de gestão, mas o presidente Jair Bolsonaro está preocupado com a lentidão do reaquecimento da economia. A ministros e interlocutores mais próximos, demonstra angústia com o crescimento das pessoas que não trabalham, nem estudam, os “nem- -nem”. Por mais que desdenhe das pesquisas que apontam para o crescimento da rejeição ao governo — por considerá-las um recorte de momento —, o chefe do Executivo federal sabe que a reativação econômica é essencial para melhorar a popularidade, e pode ajudar a reverter a pressão do Congresso.

A insistência por mudanças na articulação política, de ceder à abertura de indicações de apadrinhados, aumentou desde que a reforma da Previdência chegou à Comissão Especial da Câmara. Nas bases eleitorais de lideranças partidárias, deputados e senadores garantem que notam um descontentamento com o governo, motivado, sobretudo, pelos indicadores de emprego. É uma situação que, dizem líderes, reforça a cobrança para que a Casa Civil atenda às demandas dos partidos. 

Os números não jogam a favor do governo. No primeiro trimestre deste ano, as admissões superaram as demissões em 164,2 mil. Ou seja, foram criados postos de trabalho. No entanto, o saldo foi 15,9% inferior ao mesmo período de 2018, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foi um dos motivos, além do aumento da taxa de desemprego e subutilização da massa de trabalho — medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, que motivou Bolsonaro a adotar um pronunciamento conservador na quarta, Dia do Trabalho, sem fazer menção a dados de empregabilidade.
 
Na data comemorativa, o presidente disse que o governo tem compromisso com a “plena liberdade econômica” e citou a Medida Provisória assinada na última terça, 30, que busca facilitar regras para empreendimentos de pequenas empresas e startups. A intenção do Palácio do Planalto é criar uma agenda positiva na área econômica, já que os últimos resultados mostram que 2019 será um ano mais fraco do que o previsto, podendo ocorrer uma desaceleração em relação ao ano passado. 
 
A equipe econômica tem sido cobrada por Bolsonaro a adotar ações que ampliem a geração de empregos. O IBGE m o st r ou que o nú me r o de pessoas que procuram emprego subiu para 13,4 milhões nos três primeiros meses, o que representa uma alta de mais de 10% em comparação com o último trimestre de 2018. Além disso, a população subutilizada bateu o recorde da série histórica, atingindo 28,3 milhões de brasileiros. 
 
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e técnicos da pasta adotam o discurso de que os atuais problemas de curto prazo são questões de longo prazo não resolvidas anteriormente, em referência à gestão petista. O argumento, no entanto, não tem convencido o presidente, que exige medidas ainda para este ano, a fim de melhorar o ânimo da sociedade e, consequentemente, trabalhar o convencimento de parlamentares para a aprovação das agendas reformistas. 
 
O chefe da equipe econômica tem uma expectativa otimista, mas cuidadosa em relação ao atual cenário. Guedes sabe que cautela, no caso dos consumidores, significa recuo da demanda no mercado de bens e serviços. Mas, pressionado por Bolsonaro, pediu para que os técnicos da pasta intensifiquem estudos e análises para destravar intervenções microeconômicas de injeção no consumo, como no governo do ex-presidente Michel Temer.
 
Uma das propostas é liberar saques de contas inativas do Programa de Integração Social (PIS), voltado para trabalhadores do setor privado, e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), que atende servidores públicos. As medidas ainda estão sendo estudadas, mas cálculos da equipe econômica apontam para uma injeção de até R$ 10 bilhões. Atualmente, apenas pessoas com mais de 60 anos podem acessar os recursos, mas a proposta de Guedes permitiria que todos os cotistas tenham a possibilidade de retirar os recursos, em prazo determinado.
 
FINANCIAMENTO 
O Ministério da Economia também se apressa para anunciar ações de aumento da produtividade e do emprego. Entre as medidas, estão o Simplifica, o Emprega Mais, o Brasil 4.0 e o Pró-Mercados. No Emprega Mais, o governo vai adotar uma nova estratégia nacional de qualificação da mão de obra. A ideia é oferecer um modelo de capacitação por meio de financiamento misto com recursos do governo e do Sistema S. No pró- -mercados, o objetivo é retirar barreiras ao pleno funcionamento do mercado, com mudanças regulatórias. O plano Brasil 4.0 prevê medidas para estimular a digitalização e a modernização dos processos de gestão das companhias. 
 
O Simplifica deve ser anunciado ainda em maio, com 50 ações para desburocratizar a criação de negócios no país. Entre as ações, haverá mudanças no eSocial, o portal eletrônico em que as empresas são obrigadas a informar dados sobre os trabalhadores, como contribuições previdenciárias, folha de pagamento e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
 

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