Carnaval para todos nas ruas do Bairro do Recife

Em 1957, na época em que Luiz Bandeira escreveu o hino carnavalesco É de Fazer Chorar, com os versos ressaltando o fato de que “quem é de fato um pernambucano, espera o ano e se mete na brincadeira”, o calendário da folia momesca certamente ainda não incluía o que agita os foliões bem antes do início oficial dos festejos: as prévias. Há muito tempo, o pernambucano espera bem menos do que um ano para começar a celebrar a maior festa de rua do país. Em Olinda, desde setembro, o ato de celebração da independência brasileira já carrega, consigo, o começa da saída dos blocos e agremiações. No Bairro do Recife, embora um pouco mais tardio do que na cidade-irmã, a festa também começa cedo, a reboque dos festejos do início do ano. Ontem, a já tradicional folia antecipada na região do Marco Zero misturou-se ao evento Recife Antigo de Coração e à feirinha do Bom Jesus.

Para o público, independente do nome ou característica do evento, o importante era começar a festejar. Vestindo roupas de super-heróis para combater qualquer cansaço ou empecilho à animação, Kelle Montenegro, 36, autônoma e o marido Henrique Lapenda, 32, auxiliar administrativo, passeavam pelas ruas do “Antigo” com a filha Maria Clara, 8. “Estamos sempre juntos por aqui, em quase todos os domingos. É animado e mais calmo do que a festa em Olinda”, afirma Kelle.

E para quem pensa que idade ou distância é barreira para a diversão, a auxiliar de enfermagem Eliete Ribeiro, 59, ao dançar animada em uma roda de ciranda, prova o contrário. Todos os domingos, ela sai da cidade de Paulista, onde mora, rumo ao Bairro do Recife. “Quem disse que existe idade para brincar no carnaval? Claro que não. Estou sempre presente, principalmente onde tem samba, ritmo que adoro, assim como todos as danças populares”, relata.

Corroborando as palavras de Eliete, Cláudia Gonzaga, funcionária pública, 32, levou as filhas Luiza (3 anos) e Letícia (4 meses), para assistir aos bloquinhos infantis. Pernambucana, mas moradora de Santa Catarina há quatro anos, aproveitou as férias da mais velha para voltar à terra onde nasceu. “Estou vindo sempre e continuarei a vir até que comece o carnaval. A partir daí, fica mais difícil por causa da pouca idade delas”, conta.

O pequeno Shermison Henrique, 14 anos, é mais uma prova do caráter democrático do carnaval. Bailarino da Escola de Frevo do Recife, ele apresentou a coreografia Renda, do Espetáculo Artesãos do Passo, juntamente com outros colegas, no palco do projeto Dançando na Rua, montado na Rua da Guia. Apesar da pouca idade, o frevo no pé e o discurso mostram o quanto é veterano na folia. “Comecei a dançar aos três anos e entrei para a Escola aos oito. Quero ser bailarino profissional e acho ótimo dançar aqui para que possa mostrar a cultura local não só para quem é de Pernambuco como também para os turistas”, conta.

É o caso do senegalês Lassana Mangassouba, 32, estilista, que comercializa turbantes e roupas durante as feiras do bairro mas também pretende aproveitar a festa com a namorada Anne Kelly Guimarães, 27, pedagoga. Morando há cinco anos no Brasil e há três no Recife, é fá do carnaval. “Gosto das cirandas, do frevo, do galo, do maracatu e, principalmente, do povo daqui”, afirma.

O projeto Projeto Dançando na Rua contou com mais de 10 atrações que se apresentaram na Rua da Guia, das 15h às 20h, trazendo ritmos como frevo, forró e até tango.

FONTE: DP

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.