Chacina da Granja São João completa 45 anos

A poestisa Soledad Barret Viedma foi uma das vítimas da chacina. Foto: Reprodução da Internet

Há 45 anos, no dia 8 de janeiro de 1973, acontecia o que é considerado um dos maiores crimes da ditadura militar: a chacina na Granja São João, em Paulista. Na ocasião, seis militantes revolucionários foram assassinados no episódio que ficou nacionalmente conhecido como o Massacre da Granja São Bento.

Uma das vítimas da emboscada realizada por forças que repreendiam o movimento revolucionário foi a poetisa paraguaia Soledad Barret Viedma, na época com 28 anos. Nascida no Paraguai, Soledad pertencia a uma família culta e reconhecida no país sul-americano. Devido ao ativismo político, viveu exilada em países como Uruguai e Argentina.

Quando Soledad Barret morava em Cuba, conheceu o militante brasileiro José Maria Ferreira de Araújo da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Eles tiveram uma filha, Ñasaindy de Araújo Barret. Os dois mudam-se para o Brasil e Soledad integra a VPR. Em 1970, José Maria desapareceria e desde então não foi encontrado.

A VPR se mostrava como um movimento de oposição à Ditadura, defendendo a redemocratização, e denunciando internacionalmente as práticas das torturas e assassinatos cometidos pelo regime instaurado pós 1964. A Vanguarda atuou em várias esferas, , entre elas os movimentos culturais onde expunham todo o terror ao qual o pais sofria até então. 

Três anos depois, em 1973, Soledad e mais cinco companheiros de luta libertária morreram vítimas das ações de agentes nazistas da ditadura brasileira. De acordo com a versão oficial, os militantes foram mortos durante uma troca de tiros na chácara.

Uma segunda versão apresentada pelo jornalista Élio Gaspari, na série  “A ditadura escancarada”, os militantes foram capturados em pelo menos quatro pontos diferentes da Grande Recife, onde foram torturados e posteriormente levados para a chácara. Foram encontrados 26 tiros nos corpos dos militantes, sendo 14 deles na região da cabeça, um indício de mortes por execução.

O grupo foi encontrado depois de uma delação realizada por um agente infiltrado na própria vanguarda conhecido como Cabo Anselmo. Os outros cinco militantes que perderam a vida na chacina foram Pauline Reichstul, Eudaldo Gómez, Jarbas Pereira Márquez, José Manoel da Silva e Evaldo Luiz Ferreira.

Soledad Barret Viedma morreu grávida de 4 meses, do segundo filho, cujo pai era o Cabo Anselmo. O corpo de Soledad apresentava marcas de algemas nos pulsos e diversas esquimoses (extravasamento de sangue) espalhadas pelo corpo. Antes de morrer, escreveu o último poema destinado à mãe.

Mãe, me entristece te ver assim
o olhar quebrado dos teus olhos azul céu
em silêncio implorando que eu não parta.
Mãe, não sofras se não volto
me encontrarás em cada moça do povo
deste povo, daquele, daquele outro
do mais próximo, do mais longínquo
talvez cruze os mares, as montanhas
os cárceres, os céus
mas, Mãe, eu te asseguro,
que, sim, me encontrarás!
no olhar de uma criança feliz
de um jovem que estuda
de um camponês em sua terra
de um operário em sua fábrica
do traidor na forca
do guerrilheiro em seu posto
sempre, sempre me encontrarás!
Mãe, não fiques triste,
tua filha te quer.

(Soledad Barret Viedma)

Trecho do documentário Utopia e Barbárie, de Silvio Tendler

[wpdevart_youtube]2k7oJQkQdg8[/wpdevart_youtube]

 

Reportagem do Jornal do Commércio sobre os 40 anos do acontecimento

[wpdevart_youtube]OE1Yuaj8buY[/wpdevart_youtube]

Fonte: Memórias da Ditadura e Olinda de Antigamente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.