PE-15: uma rodovia esquecida

A rodovia PE-15, principal ligação entre as cidades de Paulista e Olinda, é sinônimo de abandono. Com um fluxo de mais de 30 mil veículos por dia e mesmo integrando o corredor Norte/Sul, a via vive uma espécie de degradação perene. Moradores do entorno, usuários do sistema de transporte público e motoristas que passam por ela conhecem bem as dificuldades de trafegar no local. A ciclovia quase inexiste em vários trechos, o matagal que toma conta das calçadas e dos canteiros e ainda o asfalto cheio de buracos. Situação que interfere diretamente na qualidade do serviço oferecido pelo modelo de transporte do BRT (Bus Rapid Transit), que está prestes a completar cinco anos, sem que a infraestrutura do corredor fique pronta.

O trecho mais crítico da rodovia estadual fica nas imediações do bairro de Ouro Preto, em Olinda, nas proximidades da entrada de Jatobá, onde o asfalto está desnivelado e com crateras. No corredor exclusivo para ônibus, os buracos tomam quase uma faixa completa e obrigam os motoristas a fazerem desvios e a entrar na faixa destinada ao transporte misto. “É uma situação caótica e interfere no cumprimento dos horários das viagens. Se uma mola do veículo quebrar, o motorista tem que pagar”, reclamou um cobrador, que preferiu não se identificar.

A situação do asfalto, segundo comerciantes da região, tem gerado uma sequência de acidentes. “Já vi dois motoqueiros sofrerem acidente aqui na frente e, quando chove, fica difícil ver os buracos. Há alguns buracos que existem há mais de dois anos”, contou o manobrista Oséias Sousa, 30.

As críticas também se estendem à ciclovia, que foi feita no desenho original do projeto e hoje é quase inexistente. “É muito difícil pedalar por aqui. Em vários trechos, os carros ficam estacionados no meio da ciclovia. Em outros, sequer tem asfalto. Só tem mato, lixo e buracos”, reclamou o porteiro Edson Rodrigues, 56. Outra queixa é em relação à drenagem. “Ando por aqui há sete anos e essa ciclovia sempre foi assim. Quando chove, a água escorre numa velocidade enorme e fica perigoso pedalar”, revelou o autônomo Luciano Silva, 60.
 
No canteiro central, o mato que cresce com facilidade nas áreas com terreno atrapalha a visibilidade principalmente do pedestre. Por causa da altura é difícil saber o que acontece do outro lado da faixa. A reportagem presenciou serviço de capinação sendo realizado nas imediações da Cidade Tabajara e também do Terminal Pelópidas Silveira.
 
Em quase cinco anos de operação, o corredor Norte/Sul está longe de fazer jus ao projeto de mobilidade do BRT, que depende de um bom pavimento no trecho exclusivo para garantir a regularidade das viagens. Há cerca de um ano, por causa dos buracos, três estações do sistema de BRT Norte/ Sul foram desativadas, nas imediações dos Bultrins, 7º Grupo de Artilharia da Campanha e Sítio Histórico. Uma obra de recuperação do pavimento foi realizada, à época, e 20 dias depois o serviço foi regularizado. Apesar da situação atual também ser crítica, o consórcio Conorte, responsável pelo transporte do BRT no corredor, informou por meio da assessoria que não há intenção de paralisar os serviços.

Não por acaso, as obras do corredor Norte/Sul são alvo de auditoria especial do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), que está em fase final. Em julho do ano passado, o tribunal filmou todo o pavimento destinado ao BRT, no trecho compreendido entre o Complexo de Salgadinho (PE-15) até a BR- 101. Em março deste ano, houve ainda uma vistoria nas passarelas Peixe Agulha e São Francisco, localizadas também na PE-15. Para o órgão, os referidos equipamentos se encontram em “estado péssimo”. A auditoria identificou ainda outra obra, que foi abandonada pelo Consórcio EMSA/Aterpa, sem estar concluída: o alargamento do pontilhão sobre o Canal da Malária, nas margens da PE-15. Nessa obra, foi constatada, inclusive, a total terceirização dos serviços, incompatível com as regras do contrato firmado. De acordo com o TCE, a própria Secretaria das Cidades rescindiu o contrato unilateralmente em novembro de 2018 e aplicou multas ao Consórcio EMSA/Aterpa.
 

“Muitos donos” e pouca manutenção 
A PE-15 tem 12,7km e corta os municípios de Olinda, Paulista e Abreu e Lima A PE-15 foi concebida na década de 1980 dentro do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU). Com 12,7 km de extensão, ela percorre o espaço entre o Complexo de Salgadinho, nas imediações da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, até a entrada da BR-101, nas proximidades de Abreu e Lima. A manutenção da rodovia é compartilhada, sendo o corredor de ônibus de responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e as vias locais do Departamento de Estradas e Rodagens de Pernambuco (DER-PE). 

No trecho de Paulista, a prefeitura afirmou que vem intensificando ações de limpeza ao longo da via, como mutirões de varrição, capinação e remoção de entulhos. Os canteiros que compõem o trecho que corta o município estão com os canteiros capinados, conforme constatou a reportagem. Segundo a prefeitura, no fim de março foi realizada uma ação em conjunto com o governo na rodovia, para ordenamento de calçadas, da ciclovia e da estrada.
 
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) afirmou que as intervenções na PE-15, no trecho em questão, estiveram concentradas na implantação do BRT, contemplando essencialmente as áreas onde ficam as estações e as vias de tráfego do BRT. Foram construídas sete estações entre os TIs Pelópidas Silveira (Paulista) e PE-15 e mais sete entre o TI PE-15 e a Avenida Agamenon Magalhães. Destas, apenas uma não está em funcionamento, mas a retomada das obras está programada para o segundo semestre deste ano, segundo o órgão. Entre os anos de 2013 e 2014, a então Secretaria das Cidades (Secid) chegou a desenvolver um projeto para requalificação da PE-15, com valor estimado em R$ 14 milhões. 

O projeto previa intervenções nas calçadas, ciclovias, iluminação pública e canteiros embaixo dos viadutos dos Bultrins e Ouro Preto. A secretaria afirmou, entretanto, que “a atual condição fiscal do estado e do país impôs a postergação das intervenções, que serão retomadas tempestivamente”. Ao fim, a pasta disse estar realizando um estudo para diagnosticar os problemas na faixa exclusiva de PE- 15, “que oportunize uma ação preventiva e corretiva precisa no corredor”. Paralelamente, estão sendo adotadas medidas emergenciais para sanar os pontos mais críticos. 

A Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), informou que concluiu o Plano de Conservação da Malha Viária Estadual e que já está em andamento a licitação para execução dos serviços de manutenção na via. Depois de publicada a licitação, a previsão é que o certame seja finalizado em até três meses, com previsão de início das intervenções a partir de julho.
 

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