Por G1 Pernambuco
Dos seis assassinatos de mulheres no Grande Recife acompanhados pelo G1 no Monitor da Violência, apenas um teve o inquérito concluído pela polícia. Isso significa que, no Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quinta-feira (8), 83% das investigações sobre os crimes que vitimaram mulheres ocorridos entre os dias 21 e 27 de agosto de 2017 continuam em aberto. Ao todo, 106 vítimas morreram de crimes violentos no estado durante o período citado.
O único inquérito concluído entre os assassinatos de mulheres monitorados foi o de Camila Maria Moura, assassinada aos 16 anos pelo ex-namorado da irmã, um adolescente de 15 anos, no dia 23 de agosto, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife.
Grávida, a vítima foi golpeada três vezes com uma faca, quando tentava evitar que o agressor ferisse a sua parente, que tinha acabado, dias antes, o relacionamento amoroso. O jovem que matou Camila foi apreendido em flagrante.
De acordo com a delegada Euricélia Nogueira, titular da delegacia de Camaragibe, também no Grande Recife, responsável pelas investigações, o inquérito foi concluído com o agravante de feminicídio, porque existe uma relação de hierarquia de gênero entre o agressor, a garota agredida e a vítima assassinada.
“O crime foi cometido pela condição de mulher. A vítima não seria Camila, mas as facadas eram dirigidas à irmã dela. É como se a mulher fosse propriedade do agressor e não tivesse vontade própria, coisa que o autor do crime disse em depoimento. Dizia ‘se ela não for minha, não será de ninguém’. Esse controle da vida e da morte configura feminicídio”, afirmou a delegada.
Responsável pelas investigações, o delegado Victor Leite, da Delegacia de Paulista, explica que separar os homicídios e agravá-los a feminicídios é possível desde os primeiros momentos da investigação, que começa com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. (Veja vídeo acima)
“A primeira coisa que fazemos quando há um homicídio de uma mulher é investigar a vida pregressa da vítima. O que ela fazia, com quem ela andava, onde trabalhava, são aspectos que nos ajudam a delinear a investigação até apontar a verdadeira motivação”, ressaltou o delegado.
De acordo com a Polícia Civil, os autores dos outros quatro assassinatos de mulheres no Grande Recife acompanhados pelo Monitor da Violência continuam desconhecidos. A polícia ainda investiga quem matou Gabriela Maria Ferreira, em São Lourenço da Mata; Iraci Gomes de Souza, no Recife; Luciana de Andrade Cardoso, agredida em Timbaúba, na Zona da Mata Norte do estado, e socorrida para a capital pernambucana, onde morreu; e Thainá Alves Mendes, no Recife.
Feminicídios
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), foram registrados 240 casos de assassinatos de mulheres, em Pernambuco, durante o ano de 2017. Desses, 76 foram caracterizados como feminicídios. Em 2016, foram 169 assassinatos no total, dos quais 111 tiveram como agravante o crime de gênero. Em 2015, Pernambuco ainda não tipificava os feminicídios e, por isso, não houve registros do crime, apesar de 245 mulheres terem morrido violentamente no estado naquele ano.
Violência contra a mulher
Durante 2017, em Pernambuco, a Secretaria de Defesa Social contabilizou 33.344 casos de violência doméstica e familiar contra mulheres. Além disso, no estado, foram registrados 2.178 casos de estupro. Isso significa que, em média, 91 mulheres foram agredidas e 5,96 pessoas foram estupradas por dia no estado em 2017. Em janeiro deste ano, foram 172 casos de estupro e 3.089 agressões.
Rede de proteção
A Central de Atendimento à Mulher “Ligue 180” é um serviço de atendimento telefônico que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive nos finais de semana e feriados. As ligações são gratuitas e podem ser feitas por qualquer telefone: móvel, fixo, particular ou público (orelhão, telefone de casa, telefone do trabalho, celular). Além disso, é possível denunciar os crimes quando eles ocorrem, pelo Disque 190 da Polícia Militar ou pelo Disque-Denúncia, no telefone (81) 3421.9595.
Atualmente, em todo o estado, há dez Delegacias da Mulher, além de dez Varas de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher no Tribunal de Justiça de Pernambuco. Existe, também, o monitoramento da distância dos agressores das vítimas via GPS.
No monitoramento por geolocalização, os agressores têm que utilizar tornozeleiras eletrônicas com dispositivos GPS, que, ao aproximar-se das vítimas, emitem sinais para que elas procurem ajuda e para que a polícia entre em contato com o agressor e o adverta a se distanciar. Caso ele não obedeça, viaturas da PM se deslocam ao local para confrontá-lo.